Fui tomada de assalto por uma lembrança terrível da minha infância.
Ela chegou sorrateiramente e invadiu – me as narinas quando decidi parar e pensar. Era mau, muito mau… De repente mal tinha “vida própria”, eram testes atrás de testes, trabalhos atrás de trabalhos… E o PP? Também estava muito ocupado, mas, ainda assim acabava por sentir no seu intimo alguma revolta para comigo. Não tinha tempo para ele nem para namorar nem tão pouco para conversar. E, das poucas vezes que estávamos juntos não sabia o que dizer. Sim, claro, eu poderia simplesmente improvisar algo, mas por uma série de razões fui levada a não o fazer. Além de que, ele iria perceber.
E foi então que me deparei com a maldita foto de família. Ao redor de uma mesa bem ornada e repleta de iguarias, lá estava eu, aos cinco anos de idade, com os meus pais, avós maternos e a minha irmã gorducha, corada e ansiosa, porque famintas, hoje sou capaz de assegurar que nunca chegamos nem perto de estar. Aquela foto fez – me lembrar de quando ara livre e podia passar o tempo a brincar e conversar com os amigos… Oh! Como era bem mais fácil!
A questão é que, quando vi a foto, era como se a cena ali eternizada jamais tivesse acontecido. Eram todos fantasmas, inclusive eu. Depois de anos repetindo a mesma rotina, eu já nem me reconhecia. Mudei, todos mudámos, mas tão devagar que nem nos apercebemos. Retiradas as coisas velhas, sobraram as paredes vazias, sujas e os cantos escuros. E eu.
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